Um grito de desabafo, um pedido de socorro, uma poesia para contar os problemas e desafios da vida. Com essa poesia a menina obteve a 1ª colocação no concurso de poesias da escola. Sentiu-se feliz, percebeu que suas palavras poderiam ser lidas e ouvidas por alguém. Percebeu que através de suas palavras poderia fazer a diferença. Escrita no ano de 2001 – Mogi Mirim SP.
Sou pobre.
Moro na favela, num barraco.
Moro na periferia da periferia.
Moro no Brasil, nesse buraco.
Meus antecedentes bem que sabiam,
Que um dia o mundo seria diferente,
Seria difícil, cheio de problemas.
E você acha que eles pensaram em mim?
Você acha que eles pensaram em você?
Foram erros sobre erros.
Hoje, quem leva o peso da culpa
Somos nós.
Eu, adolescente,
Sou só mais um incompetente
Que não pode soltar a voz.
E aí presidente!?
Quando fará uma casa para mim?
Tô com fome, com sede,
Tô cansado…
Cansado de ouvir meu pai dizer:
– Não consigo arrumar um emprego!
E minha mãe:
– Cuidado com as drogas!
Drogas?
Droga é essa política,
Essa indiferença,
Essa miséria, essa violência.
E agora ainda mais um problema,
Essa tal falta de energia,
O tal do “apagão”.
Eu aqui nessa favela
Mal tenho televisão…
Tenho um rádio, um chuveiro,
Uma geladeira.
Minha mãe trabalha de faxineira
Em uma mansão.
Lá sim é um desperdício,
Lá sim deve-se economizar!
Mas eu? Logo eu?
Ah, São Pedro…
Chove suas lágrimas sobre nós,
E ilumina nossas casas!
Caminho quilômetros até chegar à escola,
Para ouvir a dona de Geografia dizer:
– Temos que colaborar!
– Apaguem as luzes de suas casas!
Casa? Que casa?
Já moro numa escuridão,
Apagar mais o quê?
Só se for a luz do Sol,
Ou os faróis dos carros pelas “ruas”.
– É o capitalismo!
– Somos do Sul!
– É o subdesenvolvimento!
Na minha opinião,
É a desumanização.
E quem se importa com o que eu penso?
São tantos os problemas de minha vida,
Mas sei que não existem só na minha.
Como é duro, às vezes,
Nem ter um pedaço de pão…
No século 21 não vivemos,
Mas sobrevivemos,
Pra construir o futuro da nação!
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