Remontando um quebra-cabeça

Olá leitor(a)! Tudo bem por aí? Por aqui tudo caminhando bem, graças a Deus!

No último post eu falei sobre alguns desafios e conquistas do ano de 2022. Nossa, esse texto teve um impacto super positivo! Alguns amigos mandaram mensagens dizendo o quanto tinham gostado e se conectado com as minhas palavras. É muito bom saber que sou uma peça, um membro, que pode e faz a diferença na vida do outro e no mundo. Lembre-se que você também é uma importante peça. Você não está aqui por acaso.

Depois de concluir o post, diversos outros desafios do ano de 2022 vieram à minha mente, como alguns problemas relacionados ao plano de saúde da minha mãe, os quais me geraram muita preocupação e ansiedade. Outra coisa foi uma alergia ou intolerância que desenvolvi quando voltei a tomar leite (parei de tomar quando o Joca nasceu porque dava muita cólica nele). Mas, enfim… o importante é que muito aprendi com esses eventos e tudo passou! Bora seguir em frente.

Hoje quero entrar num assunto muito importante e especial, que permeiou e ainda permeia os meus dias.

Você já se sentiu perdido, deslocado, com a sensação de não saber quem é, como se lhe faltasse uma parte ou algo estivesse fora do lugar?

Estava tudo encaixado. A vida seguia funcionado de uma certa maneira. As pessoas exercendo suas funções. Eu, na minha função de filha, ajudando, fazendo o meu melhor. Mas eis que aquele dia chegou… o dia em que uma grande peça se desprendeu, eu perdi o equilíbrio e as relações com pessoas e ambientes ficaram um tanto bagunçadas. Estou falando sobre o falecimento do meu pai, no dia quatorze de novembro de 2020. Hoje, quase 4 anos depois, eu me sinto mais preparada para falar sobre isso. Querido leitor, eu conto com a sua ajuda nesse momento…

Sinceramente, eu nem sei por onde começar. Tem muitas coisas para falar sobre meu pai. Então, provavelmente, escreverei mais de um texto sobre esse assunto.

Meu pai faleceu com 79 anos. Ele completaria 80 anos no mês de abril. Meus pais completariam 50 anos de casados no dia vinte e oito de novembro. Eu conheço uma parte dessas vidas e histórias. Mal posso imaginar tudo o que meu pai tenha vivido. Uma coisa é certa, a história que eu reconheço em meu pai é uma história de valor… uma história recheada de muitos valores: fé, trabalho, família, natureza, força, disciplina, zelo, educação, honestidade, planejamento, responsabilidade, sonhos…

Eu me lembro de sempre ver meu pai forte e saudável. Acredita que não consigo me lembrar de uma só gripe que meu pai tenha pegado, quando eu era criança ou adolescente? Mas, nos últimos 15 anos de sua vida ele teve que conviver com o mal de Parkinson, consequência de algum trauma emocional ou de uma exposição à pesticidas. Quem conhece sabe o quanto essa doença é cruel. Ela vai paralisando e limitando o indivíduo, impactando na sua locomoção, comunicação, alimentação, enfim, em suas atividades gerais, tanto na parte externa quanto interna do corpo.

Somado a isso, ele também foi desenvolvendo outros problemas relacionados à idade, dentre eles problemas de próstata, que desencadeou muitas infecções urinárias, e, numa delas, corremos para o hospital, aonde ele chegou muito fraco e desidratado.

Estávamos na pandemia. O médico decidiu levá-lo para a UTI. Era sábado de manhã. Por conta da situação que ele estava, decidi ficar em Mogi Mirim (cidade onde mora minha família) até o início da semana seguinte.

Na segunda-feira, logo após o almoço, fui visitá-lo. Lembro-me de entrar no quarto. Meu pai estava sentado na cama. Ele abriu um sorriso quando me viu… conversamos um pouco. Então me despedi e disse que estava indo para minha casa, em Jundiaí, mas que no próximo final de semana eu voltaria para vê-lo. Eu segurei a mão dele e ele apertou a minha. Eu sempre me lembrarei daquele aperto de mão. Meu pai sempre foi um homem de poucas palavras… Seu gestos, seus olhares, suas expressões comunicavam tudo. Era o suficiente. Aquele aperto de mão foi mais que o suficiente para eu compreender o que ele estava me dizendo: força minha filha, força, força! Naquelas mãos eu senti o amor, o carinho, a força para ir, para seguir em frente. E assim eu continuo seguindo… porque a força que veio dele é uma força maior. É uma força que começa lá em cima, com o nosso Criador. É a força da vida, que nos move, que nos leva à lugares que jamais poderíamos imaginar.

Eu saí daquele quarto com o coração triste, mas também muito leve e fortalecido. Meu pai passou aquela semana na UTI. Minha mãe e irmãos estiveram ali, acompanhando de perto. Oramos muito por ele, pela sua recuperação.

No sábado seguinte, eu e meu marido retornamos para Mogi. Minha irmã Rô seria a pessoa que ia visitá-lo (por conta da pandemia o hospital só permitia uma visita por dia). Eu estava na casa da minha mãe quando o hospital ligou e pediu para que alguém da família fosse até lá. Bem, nem preciso falar sobre esse momento, né… coração foi a mil. Meus irmãos foram para a casa da minha mãe, ficar com ela, e eu fui para o hospital.

Chegando lá, a recepção me encaminhou até a área da UTI, onde a grande porta branca se abriu e duas moças vieram em minha direção (médica e enfermeira). Elas me comunicaram sobre a infecção generalizada, seu agravamento e a partida do meu pai… A enfermeira me entregou a bolsa preta do meu pai com seus pertences, e eu pensei: isso é o que ficou. Eu segurei aquela bolsa como se segurasse o meu pai… isso foi muito forte e marcante para mim. Enquanto eu caminhava pelo corredor, em direção à saída do hospital, a enfermeira comentou que meu pai pedia para colocar música para ele ouvir no quarto. Música sertaneja. Ah, pai, nossas músicas, nossas histórias…contam sobre quem somos e sobre como nos sentimos.

Lá fora, meu marido me aguardava. Juntos voltamos para a casa da minha mãe. Agora, eu tinha a missão de comunicar o falecimento do meu pai para minha mãe e minha família.

Querido leitor, tem coisas que parecem óbvias, mas ainda assim precisam ser ditas. Quando o hospital ligou, já imaginei o que poderia ter acontecido. Mas ainda assim foi importante e extremamente necessário eu ouvir e depois transmitir essa mensagem. Por mais triste e doloroso que seja, o que é importante precisa ser comunicado com clareza, preciso ser revelado.

Se você ama alguém, diga a ela: eu te amo. Se você está chateado com alguém, diga: eu estou chateado com tal situação. Se você está preocupado com algo, diga a alguém como se sente. Contar sobre nossos pensamentos e sentimentos é uma forma de tomar consciência, de compreender, de aprender, de organizar, de encontrar novos caminhos, soluções, e tomar decisões melhores.

O que fazer depois de ouvir e contar sobre o falecimento do meu pai?

Com essa consciência eu decidi viver esse luto, essa tristeza, pelo tempo que fosse necessário. Nem sempre as pessoas a nossa volta vão conseguir entender e apoiar. Só quem já passou por isso tem a noção do impacto… Um impacto que abriu um buraco em mim, que me desestruturou. A Bruna, filha do Aurides, que gostava de chegar na casa dos pais na sexta-feira à noite e dar um beijo no pai, já deitado em sua cama, e, no dia seguinte, levá-lo para passear no mercado e tomar um sorvete… essa Bruna, não existia mais. Compreender isso foi uma das coisas mais difícil para mim. Foi desafiador conseguir me encontrar na rotina, dentro dos cômodos da casa e da vida.

Mas, tudo passa, sim, tudo passa. Com o passar do tempo, a relação com as pessoas (principalmente com minha mãe) e com os ambientes, foi reorganizada, restabelecida. O quebra-cabeça foi remontado e, aquela grande e importante peça que havia se deslocado reencontrou o seu lugar e ganhou um novo significado. Aquele vazio foi preenchido por um AMOR e por uma GRATIDÃO enorme!

Desejo, meu pai, seguir forte, regar as nossas flores, ouvir o canto dos pássaros. Contemplar. Descansar. Sonhar. Realizar. Prosperar. Que assim seja, por todas as gerações até a volta de Jesus! Que nossa família siga na Luz, comtemple a Luz e desfrute da eternidade.

Estou em paz! Obrigada por tudo e por tanto, meu pai. EU TE AMO!

Obrigada leitores por me apoiaram até aqui.

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre.” – Bíblia, Primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses, capítulo 4, versos 16 e 17.

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